Especialista em cooperação intergeracional, Dado Schneider é um expert em comportamento humano e mudanças no mercado de trabalho. Ele é um dos palestrantes do 91º Encontro da ABMI, que acontece de 21 a 23/8/24, no hotel InterContinental, em São Paulo (SP).
Com um vasto currículo que inclui ser o primeiro executivo da DM9 São Paulo, criador da marca Claro e consultor de comunicação na transição digital do Magazine Luiza, ele deverá abordar questões relacionadas a comportamentos geracionais.
“Como liderar e vender para a nova geração” é o título de sua palestra, que, com início previsto para as 17h20, fecha em grande estilo o primeiro dia do evento.
Com doutorado em Comunicação e especialização em Marketing, Dado é também embaixador da Campus Party e professor nas principais universidades do Brasil e Portugal.
Oportunidade para o diálogo
Em entrevista ao site da ABMI, Dado destaca que a geração Z, ou seja, as pessoas que nasceram neste século, tem expectativas muito diferentes das gerações que a antecederam.
“O grande desafio é as gerações anteriores tentarem entender a geração Z”, afirma Dado Schneider, ressaltando que dessa situação surge oportunidade do diálogo.
“Seria ótimo se as gerações se aproximassem. Todos têm muito a aprender com todos. Mas o diálogo, ultimamente, está bem difícil”, pondera.
Confira a seguir a íntegra da entrevista concedida por Dado Schneider ao site da ABMI.
Como você enxerga os diferentes comportamentos e expectativas das diferentes gerações no contexto do mercado de trabalho atual?
Eu costumo explicar que as gerações não são definidas exatamente por uma data, se é 1962, 1963, 1998, 1999… Eu costumo dizer como é que foram criadas, em que contexto foram criadas. E, obviamente, as gerações Baby Boomer, de 1945 a 1964, e a X, que vem na sequência, 1965 a 1981, foram criadas do mesmo jeito. Hoje, até os integrantes da geração X, que estão ficando mais velhos, estão ficando muito parecidos com os Baby Boomers. Já os da geração Millenials são da transição, são filhos da abertura democrática do Brasil, ou então de ventos liberalizantes. Os pais criaram os filhos já de outra maneira, a escola já foi diferente. Mas, mesmo assim, os Millenials têm influências muito mais da geração Baby Boomer de respeito à autoridade, do que a geração Z que é essa que nasceu nesse século. A geração Z é muito diferente. As expectativas da geração Z são muito diferentes das gerações que a antecederam.
Quais são os principais desafios e oportunidades que surgem da convivência dessas gerações no ambiente corporativo?
O maior desafio que as gerações enfrentam no mercado de trabalho é da linguagem. A geração Z, que são os atuais jovens, é seguramente a geração mais diferente das anteriores, desde a era dos hippies. E os jovens dessa geração têm um agravante. Os hippies não tinham redes sociais, então não eram tão conectados assim para bandeiras e causas. Iam para a rua apenas. E a geração Z é muito diferente nesta questão de causa. O grande desafio é as gerações anteriores tentarem entender a geração Z. Porque não é a geração Z que tem de entendê-las. É um pouco, sim. Mas é mais as anteriores entenderem essa nova. O que surge daí é a oportunidade do diálogo. Seria ótimo se as gerações se aproximassem. Todos têm muito a aprender com todos. Mas o diálogo, ultimamente, está bem difícil.
Como a diversidade geracional pode contribuir para um ambiente de trabalho mais inovador e criativo?
A diversidade geracional com certeza contribui para um ambiente de trabalho mais inovador e criativo, porque onde todo mundo está pensando parecido ninguém está pensando nada. Não é necessariamente no confronto de ideias e, sim, na somatória de ideias. Porque visões de mundo diferentes geram mais debate, mais repertório. E eu sou professor de Criatividade e Inovação. Criatividade é recombinar elementos. Quantos mais elementos temos, mais a gente tem chances de avançar e criar coisas novas. E o repertório de todas as gerações somadas torna essa experiência muito interessante.
Quais estratégias as empresas podem adotar para promover a inclusão e o respeito às diferenças entre as gerações?
O que mais recomendo que as empresas façam é que estimulem que as gerações se expliquem umas para as outras. Contem como foi sua trajetória até aqui. Mesmo a mais nova tem de contar. Foram ambientes diferentes de criação e educação. Por exemplo, pessoas da geração mais velha que chegavam atrasados na aula iam direto para a diretoria. Não tinha conversa. Era uma cultura da sociedade totalmente vertical, hierarquizada. O ideal é que as gerações se expliquem umas para as outras. Só que para isso tem de ter linguagem comum e isso é o mais complexo. Ou seja, pessoas que possam fazer essa mediação.
Em seu currículo é mencionada experiência na transição digital do Magazine Luiza. Como líderes podem conduzir suas equipes nesse cenário de transformação tecnológica acelerada?
Esse cenário de transformação tecnológica acelerada exige uma abertura para mudança maior ainda. Isso porque está aumentando está aumentando a velocidade da mudança, e eu gosto de dizer não só a velocidade da mudança, mas está aumentado a aceleração da velocidade da mudança. E isso, às vezes, transcende a questão meramente da idade cronológica. Muitas vezes há pessoas com cabeça mais madura que estão acompanhando, mas o que preocupa é que já há jovens que estão resistentes à mudança. Eu chamo de jovens velhos. Os líderes têm de ver em que estágio de cabeça está cada um dos seus liderados, porque, às vezes, não é a questão da idade cronológica e, sim, da visão de mundo, da resistência a mudança ou de um certo conservadorismo em termos de gestão.
Quais competências são essenciais para os gestores lidarem com as mudanças trazidas pela revolução digital?
A primeira coisa é estar aberto ao novo. Fala-se muito em disrupção, atitudes disruptivas, mas o mais importante é a abertura ao novo. E isso só se consegue, compreendendo o cenário. E o cenário pode ser compreendido quando a pessoa entende o que está acontecendo. Por isso digo que antes de mudar a pessoa tem de compreender para aceitar. Porque só muda quem aceita. Não é uma questão de gostar. É entender para aceitar. Não necessariamente gostar.
Considerando o tema central do evento – liderança e gestão – como define uma liderança eficaz no contexto atual?
Costumo fazer um jogo de palavras. Como o século 20 era vertical, a pessoa mandava, e tudo vinha de cima para baixo. Como o século 21 tem uma estrutura horizontal, a pessoa no máximo co-manda, com hífen, porque precisa da equipe para tocar qualquer trabalho, qualquer projeto. Isso meio que configura que no passado a liderança poderia basear-se em coação: ‘Faz, senão você vai pra rua’. E hoje a liderança tem de ser exercida por meio de adesão. É muito mais complexo liderar hoje, porque no passado era mais simples, ou seja, bastava dar uma ordem.
Quais são, a seu ver, os principais desafios enfrentados pelos líderes no mercado imobiliário e como eles podem se preparar para superá-los?
Fica difícil sintetizar numa resposta. É quase uma palestra. Mas os principais desafios enfrentados pelos líderes do mercado imobiliário são, primeiro, as mudanças rápidas do mercado; novos produtos e serviços, novas modalidades, inclusive, de negócios e a mediação digital muitas vezes ocupando espaço da mediação humana – pessoas presencialmente. E aqui não é uma substituir a outra, mas obter o melhor do somatório a intermediação digital, por robôs, e aquele atendimento da pessoa, do corretor, aquele atendimento humano que tão bem diferencia uma venda.
De olho no futuro, quais tendências você identifica no mercado de trabalho e como os profissionais podem se adaptar para se manterem relevantes?
Creio que estamos num mercado de profundas e muito aceleradas modificações. O que mais sugiro para todo mundo – inclusive para mim mesmo – é ficar com um dedo no pulso do mercado o tempo todo. Ficar atento às mudanças e principalmente para onde está sinalizando a flecha da tendência. Porque, às vezes, as pessoas fazem uma leitura de cenário perfeita, como se fosse a foto tirada naquele momento, mas além de entender o cenário é preciso entender para onde está apontando a flecha. Ou seja, quais são as tendências. E isso passa por uma atualização profissional, cultural e digital absurdamente necessária. Principalmente a partir dos avanços da Inteligência Artificial na questão de poder realizar atividades que são mais repetitivas, mais mecânicas, e liberar a pessoa para ter tempo do contato humano, da relação, porque isso ainda funciona muito.
Credenciamento de mídia e programação completa
O evento é exclusivo para dirigentes e colaboradores de empresas associadas, mas aberto à mídia, bastando para tanto entrar em contato com a Assessoria de Imprensa da ABMI, por meio do e-mail imprensa@abmi.org.br ou do celular-WhatsApp (11) 98131.8243.
Para ver a programação completa do 91º Encontro da ABMI acesse aqui.