“A transformação do mercado imobiliário pela Inteligência Artificial será profunda nos próximos anos, mas, diferente do que muitos pensam, não será sobre substituir corretores, e sim potencializá-los.”

A previsão é do palestrante internacional Kenneth Corrêa (foto), diretor de Estratégia na 80 20 Marketing e professor de MBA na Fundação Getúlio Vargas (FGV), uma das atrações do 94º Encontro da ABMI, que acontece nos dias 13 e 14/3/25, no hotel Deville Prime, em Campo Grande (MS).

Especialista em Inovação e Tecnologias Emergentes, incluindo Inteligência Artificial, Metaverso e Dados, com mais de 15 anos de experiência em projetos de Marketing e Tecnologia para empresas líderes em seus setores, Kenneth tem em seu currículo mais de 150 palestras, incluindo dois TEDx, eventos realizados por comunidades locais que compartilham ideias inovadoras e inspiradoras, no formato TED – Tecnologia, Entretenimento e Design.

No Massachusetts Institute of Technology (MIT), Kenneth lançou em setembro de 2024 o seu livro “Organizações Cognitivas”, no qual apresenta o conceito de Redes de Agentes Inteligentes e como eles já estão gerando uma profunda transformação em como as organizações incorporam uma inteligência artificial no dia a dia de suas operações.

No 94º Encontro da ABMI, Kenneth fará palestra sob o tema” Da captação ao fechamento: como a IA turbina cada etapa da venda”, com início previsto para as 14h40 do dia 13/3.

Em entrevista ao site da ABMI, ele comentou que “o fascinante da tecnologia é que ela nunca para de evoluir”, ressaltando que sua missão “é tornar essas inovações acessíveis e práticas para as empresas, independente do seu tamanho ou setor”.

Primeiro presencial do ano da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário, o Encontro deverá reunir imobiliárias de todo o país associadas à entidade, para, em palestras e painéis comandados por especialistas, como Kenneth Corrêa, debater também perspectivas do setor de imóveis para 2025, cultura organizacional, gestão por indicadores, funding imobiliário, loteamentos, locação e vendas, bem como desdobramentos da reforma tributária em relação ao segmento.

Exclusivo para dirigentes e colaboradores das mais de 60 imobiliárias associadas à ABMI país afora, o Encontro que começa dia 12/3, com visitação dos associados à Perez Imóveis, associada anfitriã do evento, é aberto a jornalistas, desde que devidamente credenciados pela assessoria de imprensa da entidade (imprensa@abmi.org.br ou (11) 98131-8243 – WhatsApp).

Confira a seguir a íntegra da entrevista com Kenneth Corrêa.

Poderia nos contar um pouco sobre como começou sua trajetória nas áreas de Inteligência Artificial e Tecnologias Emergentes?

Minha jornada com tecnologia começou cedo, aos 6 anos, quando aprendi a digitar antes mesmo de dominar a escrita à mão. Desde então, acompanhei e me adaptei a cada onda de inovação tecnológica: das BBS [Bulletin Board System, sistemas de comunicação pré-internet] à internet comercial, do e-commerce às redes sociais, dos smartphones ao blockchain, e agora a IA Generativa e as Redes de Agentes Inteligentes. Como professor há 20 anos, sendo dez deles nos programas de MBA da Funda Getúlio Vargas (FGV), tenho o privilégio de estar sempre na fronteira do conhecimento, pesquisando e compartilhando as últimas tendências em tecnologia. Em 2020, iniciei uma nova fase com treinamentos in company, ajudando empresas a implementarem essas tecnologias em seus processos, e em 2023 expandi minha atuação para o cenário internacional como palestrante, tendo inclusive realizado duas palestras no TEDx. O fascinante da tecnologia é que ela nunca para de evoluir, e minha missão é tornar essas inovações acessíveis e práticas para as empresas, independente do seu tamanho ou setor.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo de sua carreira?

Os maiores desafios em minha carreira sempre estiveram ligados à velocidade da mudança tecnológica e à resistência natural das pessoas em adotá-las. Quando comecei a falar de redes sociais para empresas, muitos ainda as viam como perda de tempo. O mesmo aconteceu com mobile, e-commerce, e agora com IA. O desafio não está apenas em dominar as novas tecnologias, mas principalmente em traduzir seu valor para o dia a dia das empresas. Por isso, desenvolvi uma abordagem prática em minhas palestras e treinamentos, focando em casos reais e resultados tangíveis, não apenas em conceitos teóricos. Outro desafio significativo foi equilibrar o entusiasmo pela inovação com a realidade do mercado. Nem toda tecnologia nova precisa ser adotada imediatamente, e parte do meu trabalho é ajudar as organizações a identificarem o momento certo para cada implementação, considerando sua maturidade digital e objetivos de negócio.

No 94º Encontro da ABMI, você deverá abordar um tema que mostraria como, da captação ao fechamento, a IA turbina cada etapa da venda. Poderia nos antecipar alguns pontos que o público do evento poderá esperar da sua palestra?

Na palestra, vou apresentar um panorama prático de como a IA pode otimizar cada etapa do processo de vendas imobiliárias. Começaremos com a captação de imóveis, passando pela prospecção de clientes, mostrando por exemplo como chatbots inteligentes podem qualificar leads 24/7 e como ferramentas de IA Generativa auxiliam na criação de conteúdo personalizado para diferentes perfis de compradores. Por exemplo, uma corretora usando ChatGPT para criar descrições envolventes de imóveis e Ruum [ferramenta que facilita a organização e comunicação eficiente dentro de equipes], para gerar imagens de decoração virtual. No processo de venda, apresentarei como assistentes virtuais podem agendar visitas automaticamente e como a IA ajuda a cruzar preferências dos clientes com o inventário disponível.  No fechamento, demonstrarei como a IA pode agilizar a análise de documentos, e automatizar a geração de contratos. Tudo isso com exemplos práticos e QR Codes com links que os participantes poderão aplicar em suas operações imediatamente.

Como você vê a IA transformando as vendas nos próximos 5 a 10 anos, em especial no que se refere ao mercado imobiliário?

A transformação do mercado imobiliário pela IA será profunda nos próximos anos, mas, diferente do que muitos pensam, não será sobre substituir corretores, e sim potencializá-los. As Redes de Agentes Inteligentes, que abordo em meu livro “Organizações Cognitivas” (publicado no MIT em setembro de 2024), serão fundamentais nessa evolução. Veremos visitas virtuais muito mais imersivas, com assistentes de IA guiando os clientes e respondendo perguntas em tempo real. A precificação dinâmica baseada em IA considerará centenas de variáveis para determinar o valor justo de cada imóvel. A análise preditiva identificará tendências de mercado e oportunidades de investimento com precisão sem precedentes. O processo de compra e venda será mais fluido, com sistemas inteligentes cuidando da burocracia enquanto os corretores se concentram no relacionamento humano. Imagine um corretor recebendo alertas da IA sobre o momento ideal para contatar cada cliente, com sugestões personalizadas baseadas no histórico de interações. A chave será encontrar o equilíbrio entre automação inteligente e toque humano, usando a tecnologia para amplificar, não substituir, as habilidades dos profissionais imobiliários. ⁠

Com mais de 150 palestras e dois TEDx no currículo, há algum momento ou feedback específico que tenha marcado você profundamente?

O mais gratificante em minha jornada como palestrante não é o momento do palco, embora seja emocionante ver o brilho nos olhos das pessoas quando percebem o potencial transformador da tecnologia. O que realmente me marca são os retornos que recebo semanas, meses ou até anos depois. Recentemente, uma empresária me procurou para contar que, após implementar as ferramentas de IA que apresentei em uma palestra, conseguiu reduzir em 40% o tempo gasto em tarefas administrativas. Um diretor de marketing compartilhou que triplicou a produção de conteúdo de sua equipe usando as técnicas que ensinei em um treinamento in company. Esses feedbacks são o verdadeiro impacto que busco gerar. Não se trata apenas de inspirar durante uma hora de palestra, mas de provocar mudanças reais e duradouras nos negócios e na vida das pessoas. Este é o legado que pretendo deixar: transformar conhecimento em resultados práticos.

Poderia compartilhar algum case de sucesso onde a aplicação de IA, Metaverso ou Dados tenha feito uma grande diferença para uma empresa?

Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de trabalhar com empresas de diferentes portes e setores, desde gigantes como Walt Disney Company, Ford e Petrobras, até pequenos empresários em eventos de grande alcance. Cada caso tem sua particularidade e impacto único. Mas já que estamos falando de mercado imobiliário, um caso que me emociona particularmente aconteceu após uma palestra para a Perez Imóveis no final de 2023. Dezenas de corretores parceiros implementaram as ferramentas de IA que apresentei e transformaram sua forma de trabalhar: começaram a criar descrições mais envolventes para os imóveis nos portais, desenvolveram abordagens personalizadas para iniciar conversas com clientes, e até passaram a usar IA para análise de legislação e desenvolvimento de projetos estratégicos. O mais gratificante é ver o resultado concreto ao longo de 2024 e 2025: prédios que foram não apenas construídos, mas vendidos, utilizando estas estratégias. É a tecnologia gerando resultados reais e mensuráveis no mercado imobiliário.

O que o inspirou a escrever “Organizações Cognitivas: Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes”?

A inspiração para escrever “Organizações Cognitivas” veio da observação de uma lacuna importante: enquanto muitas empresas já experimentavam com ferramentas isoladas de IA, poucas entendiam como criar uma verdadeira inteligência organizacional através de redes de agentes trabalhando em conjunto. Durante minhas palestras e consultorias, percebi que as empresas precisavam de um roteiro prático para implementar IA de forma sistemática e escalável. Não bastava apenas usar o ChatGPT ou o Microsoft Copilot isoladamente – era necessário criar uma abordagem integrada onde diferentes IAs trabalham em conjunto, cada uma em sua especialidade. O livro nasceu dessa necessidade e foi lançado no MIT, trazendo casos práticos e um roteiro claro de implementação. É gratificante ver organizações usando as Redes de Agentes para transformar suas operações, desde a automação de processos até a tomada de decisão estratégica, criando verdadeiras organizações cognitivas que combinam o melhor da inteligência humana e artificial.

Quais são os ensinamentos principais que você gostaria que os leitores tirassem do seu livro?

O principal ensinamento do livro é que o futuro não está em ferramentas isoladas de IA, mas em Redes de Agentes Inteligentes trabalhando de forma coordenada. Uma organização cognitiva não é aquela que apenas usa tecnologia, mas que desenvolve uma verdadeira inteligência coletiva, combinando capacidades humanas e artificiais. O livro apresenta um framework prático para implementação, mostrando como criar, gerenciar e escalar estas redes de agentes. Por exemplo, em vez de ter apenas um chatbot de atendimento, uma imobiliária pode ter uma rede de agentes onde um qualifica leads, outro analisa documentos, outro gera descrições de imóveis, e todos trabalham em conjunto sob supervisão humana. Outro ponto crucial é a mudança de mentalidade necessária: não se trata de substituir pessoas por máquinas, mas de liberá-las para trabalhos mais estratégicos e criativos. O objetivo é aumentar a produtividade e a qualidade do trabalho, não eliminar postos. Por fim, o livro enfatiza a importância da implementação gradual e responsável da IA, sempre alinhada com os objetivos de negócio e valores da organização.

Quais tendências emergentes em IA e tecnologia você acredita que terão um impacto significativo num futuro próximo?

Estamos vivendo um momento único de transformação tecnológica, onde é desafiador fazer previsões precisas devido ao ritmo acelerado das mudanças. O mais interessante é que os próximos avanços significativos virão não necessariamente de ferramentas totalmente novas, mas da evolução das que já utilizamos. Por exemplo, o ChatGPT evoluiu drasticamente desde seu lançamento em novembro de 2022 até agora. Para o mercado imobiliário especificamente, vejo três tendências principais: primeiro, a evolução dos agentes autônomos, que poderão realizar tarefas completas como análise de documentação e geração de contratos com mínima supervisão humana. Segundo, a IA multimodal, que combinará texto, imagem e vídeo para criar experiências mais ricas de visualização de imóveis. E terceiro, a hiperpersonalização do atendimento, onde sistemas de IA aprenderão continuamente com cada interação para oferecer recomendações cada vez mais precisas. O foco não deve ser em qual será a próxima tecnologia disruptiva, mas em como aproveitar melhor as ferramentas já disponíveis, que continuam evoluindo rapidamente e oferecendo novas possibilidades a cada atualização.

Como você vê o papel do Metaverso na transformação digital das empresas?

O Metaverso precisa ser visto de forma pragmática, especialmente para o mercado imobiliário. Diferente do hype inicial de 2021/2022, hoje entendemos que sua aplicação deve focar em casos de uso que realmente agregam valor ao negócio.Para o setor imobiliário, vejo três aplicações práticas imediatas: tours virtuais imersivos que permitem clientes visitarem diversos imóveis sem sair de casa; salas de reunião virtuais para treinamento de corretores e apresentações para investidores; e a possibilidade de visualizar personalizações e reformas em tempo real através de realidade aumentada.Empresas como Cyrela e Even já experimentam com estas tecnologias, permitindo que clientes visualizem apartamentos na planta com alto nível de detalhamento e interatividade. Não é sobre criar um mundo virtual paralelo, mas sim usar a tecnologia para melhorar experiências reais de compra e venda.O segredo é começar com projetos pilotos focados em resultados mensuráveis, evitando investimentos especulativos em tecnologias que ainda estão amadurecendo.

Comentários (1)

  1. Marcelo Faria Brognoli
    11 de março de 2025

    Fundamental para a nossa atividade, o uso de novas ferramentas tecnológicas. Com certeza este será mais um evento de sucesso na ABMI.

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