Fonte: Valor Econômico
Procura por espaços de armazenagem por parte de empresas de comércio eletrônico tende a crescer
A demanda por espaços de armazenagem por parte de empresas de comércio eletrônico tende a crescer, principalmente nas proximidades da cidade de São Paulo – maior centro consumidor do país – neste cenário de isolamento social decorrente da pandemia de coronavírus e de fechamento de lojas de produtos considerados não essenciais e de shopping centers. “Mais de 50% da ocupação do mercado de galpões do Estado de São Paulo está ancorada em transportes, logística, varejo e e-commerce, segmentos em que está concentrada a demanda atual”, diz o presidente executivo da consultoria SiiLA, Giancarlo Nicastro.
A Goodman Brazil Logistic Partnership (GBLP) já começa a sentir os efeitos do aumento da demanda no ritmo de fechamento de contratos de locação. “Devemos alugar áreas, nos próximos 15 dias, que levariam seis meses para ser locadas em uma situação normal”, conta o presidente da GBLP, Cesar Nasser. As conversas para essas operações já tinham sido iniciadas. Tem havido demanda, segundo Nasser, por parte do comércio eletrônico de alimentos, farmacêuticos e produtos de limpeza.
Mauro Dias, presidente da Global Logistic Properties (GLP) – maior empresa do segmento com atuação no Brasil – também afirma que alguns clientes de comércio eletrônico que estavam buscando áreas aceleraram o fechamento de negócios.
“Nosso negócio vai sair fortalecido da crise. O abastecimento é importantíssimo e precisa continuar”, diz o presidente da Log Commercial Properties, Sérgio Fischer. Diferentemente de outros segmentos do mercado imobiliário, como o residencial, as operações de galpões prosseguem normalmente. O executivo avalia que, durante este momento de turbulência vivido pelo país devido ao surto do coronavírus, mais consumidores terão suas primeiras experiências de compra online. “A crise vai mudar muito os hábitos das pessoas”, diz o presidente da Log.
O diretor de representação de ocupantes do segmento industrial da consultoria JLL, Jeremy Smith, conta que o ritmo de busca por parte de clientes, principalmente de comércio eletrônico, de soluções para o chamado “last mile” – última etapa de armazenamento e distribuição dos produtos antes de os itens chegarem às mãos do consumidor – se acelerou na cidade de São Paulo. “Estamos fechando vários negócios”, afirma Smith.
No entendimento do diretor da JLL, empresas de comércio eletrônico e varejistas que buscarão aumentar a parcela vendida online, no novo cenário, tendem a elevar seus estoques, o que beneficiará também galpões mais afastados dos grandes centros. Mas ainda não está claro, conforme o gerente de transações da JLL, Ricardo Hirata, qual será o impacto da crise atual nos indicadores de emprego e desemprego, que afetam o consumo e podem ter efeitos sobre a demanda por galpões.
Em relação à expectativa de preço de locação, o executivo da Log afirma que é cedo para estimativas, mas reconhece que será necessário fazer concessões a clientes, como carências. O presidente da GLP diz que a empresa ainda não recebeu pedidos de descontos.
Mas, segundo Nicastro, da SiiLA, ocupantes já começaram a pedir aos proprietários, no mercado, redução dos valores de locação. O que não se espera, no curto prazo, é um movimento de devolução de áreas. “Empresas com ocupação em galpões próximos aos centros urbanos entendem que a situação é passageira, então a desmobilização não interessa. Pode haver redução de valores por 90 dias. Depois, as partes conversam, novamente, sobre as condições de locação”, afirma o presidente da SiiLA.
Mesmo com a mudança de cenário, GLP, GBLP e Log estão mantendo os respectivos planos de investimento. “Podemos diminuir um pouquinho o ritmo de obras, com redução das equipes e rotação maior dos times. Mas nossos investimentos são de muito longo prazo e estão mantidos”, afirma Dias, da GLP. Segundo o executivo, o processo de obtenção de licenças para projetos é um “ponto de atenção”, “mas nada que impacte a GLP no curto prazo”.
Segundo Nasser, da GBLP, os projetos estão mantidos, mas os prazos para desenvolvimento serão “dilatados”. A empresa passou a esperar, por exemplo, para julho a liberação de licenças pela Prefeitura de São Paulo para o projeto de galpões que vai erguer no bairro Itaquera, na frente do estádio de futebol conhecido como “Itaquerão”, prazo estimado, inicialmente, para abril. Previsto para ser concluído em 2021, o empreendimento tem três inquilinos interessados em locar quase a totalidade da área, conforme o executivo.
A GBLP tem obra de um empreendimento nas proximidades de Vinhedo (SP), com estimativa de oferta para locação em 2022, que continuará a ser executada “até que haja uma determinação para suspendê-la”, segundo Nasser. As operações de compra de terrenos, em fase final, serão concluídas. Nas novas aquisições de áreas, o executivo tem expectativa que haja reavaliações de preço.
Na Log, as novas compras de terrenos serão feitas em permuta para preservar caixa. “Grande parte das obras em andamento estão pré-locadas”, acrescenta Fischer. Mas, se por um lado, os processos em curso de novas locações prosseguem, nas conversas que ainda estavam se iniciando, os clientes estão mais conservadores, segundo o executivo.
Fischer ressalta que o foco de preocupação da Log, no momento, não está na empresa e na obtenção de lucro, mas nos seus empregados e nos funcionários dos clientes alocados nos galpões. Na última sexta-feira, a fatia de funcionários da Log trabalhando em sistema de “home office” chegou a 90%.
“A GLP está se adaptando à nova situação, atenta à saúde e à segurança de todos”, afirma Dias.
(((Por Chiara Quintão — De São Paulo // 25/3/2020)))