Fonte: Jornal O Vale
(19/9/22)
O mercado imobiliário deve fechar 2022 com o segundo melhor resultado dos últimos dez anos, ficando atrás apenas de 2021, quando houve um boom no setor. A projeção foi apresentada durante o 82º Encontro da ABMI (Associação Brasileira do Mercado Imobiliário), que ocorreu nesta semana em São José dos Campos.
Considerando 197 cidades, incluindo as capitais brasileiras e municípios-chave de regiões metropolitanas, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) levantou que as vendas deste ano superaram os novos empreendimentos. Foram 63.878 unidades habitacionais lançadas; vendidas, 72.861.
Da região, Taubaté e São José dos Campos tiveram dados compilados para a pesquisa. Nesta última, um dado curioso: apesar de não superar o total de 1.029 vendas registradas no primeiro semestre do ano passado, os 841 imóveis residenciais comercializados no mesmo período deste ano têm VGV (Valor Geral de Vendas) 25% maior que o de 2021, alcançando a marca de R$ 438,3 milhões.
Para Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, este cenário se deve, entre outros fatores, a alterações em indicadores econômicos, recuperação de empregos formais e a financiamentos facilitados. “O aumento de quase 600% da taxa Selic não nos atinge da mesma forma que atinge outros setores. Inclusive, a taxa de financiamento de imóvel hoje é negativa em relação à taxa de juros praticada na economia. Desta forma, vale mais a pena deixar o dinheiro aplicado, pois rende até 14% ao ano enquanto que o financiamento sai a 9,5% ao ano.”
São José dos Campos está entre as cidades que mais geraram emprego no estado de São Paulo, com 8.602 vagas abertas entre agosto de 2021 e julho de 2022, segundo dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Este fator também é citado como motivador por Petrucci, que ressalta ainda o papel da pandemia na ressignificação da ideia da casa própria.
Frederico Marcondes César, vice-presidente do interior no Secovi-SP, tem mesma percepção ao avaliar a restauração do setor. “Observamos melhora nas vendas devido à situação econômica. Se as pessoas têm carteira assinada, elas vão querer realizar o sonho da casa própria”, garante.
Sobre o montante de vendas de empreendimentos ter sofrido refração nos últimos anos, César cita a relação com o perfil de imóveis ofertados. “Nos quatro anos anteriores, devido ao momento desafiador pelo qual o país passou, 70% dos lançamentos e das comercializações eram focados no programa Minha Casa Minha Vida. Agora, com o mercado voltando à normalidade, os imóveis de três e quatro dormitórios respondem por aproximadamente 50% das ofertas”, diz César.
Pesquisa recente da Aconvap (Associação das Construtoras do Vale do Paraíba) também evidencia a tendência em São José e Jacareí, com a predominância do segmento standard, aquele acima do teto do programa Casa Verde Amarelo, que requer investimentos na faixa de R$ 500 mil.
Lançamentos
O levantamento da Aconvap também demonstra, por exemplo, que mais da metade das 2.056 unidades de diferentes padrões lançadas em Jacareí nos quatro primeiros meses do ano já foram vendidas.
O bancário Wilder Batista, 25 anos, é um comprador e deve receber a chave do novo imóvel em outubro de 2023. “Fiz diversas simulações de financiamento e negociei bastante com a construtora”, conta ele, que é recém-casado e não vê a hora de se mudar para o apartamento de dois quartos.
Em São José dos Campos, a estimativa é de que foram lançadas 4.224 unidades no primeiro quadrimestre deste ano, entre empreendimentos horizontais e verticais, cujo valor de venda soma R$ 2,1 bilhões.
Mais da metade dos empreendimentos à venda na cidade, algo em torno de 60%, estão localizados nas regiões sul e leste. Os números foram levantados pela Aconvap com base nos dados das construtoras associadas da entidade e em consulta às principais imobiliárias.
Setor fala em baixo estoque de imóveis para suprir demanda
Com o mercado aquecido, os estoques de imóveis disponíveis para compra em São José dos Campos são considerados baixos. Há 2.000 unidades, quando o setor estima serem necessárias 3.500.
Frederico Marcondes César, vice-presidente do interior do Secovi-SP, diz que entre 2014 e 2018 projetos foram engavetados por desafios econômicos. “Nosso estoque atende somente aos próximos oito meses, já que a média de absorção do mercado é de 350 unidades por mês. Com isso, pode ocorrer uma elevação dos preços de venda”, ressalta César, que esclarece que a viabilização de um empreendimento imobiliário chega a durar três anos entre compra do terreno e entrega das chaves.