Notas & Informações, O Estado de S. Paulo / 20 de março de 2020

O que parece arriscado é prever que o setor de imóveis mantenha, em 2020, o ritmo acelerado observado em 2019

Em janeiro, antes que se conhecesse a extensão da crise do coronavírus, não se alterou a tendência de aquecimento das vendas de imóveis em São Paulo, visível desde o segundo semestre de 2018 e presente ao longo de todo o ano passado. A comercialização de 2.315 unidades novas no primeiro mês do ano marcou novo recorde histórico, superou em 42,7% a de janeiro de 2019 e, em 12 meses, alcançou 45.428 moradias, com crescimento de 52,1% em relação aos 12 meses anteriores. O que parece arriscado é prever que o setor de imóveis mantenha, em 2020, o ritmo acelerado observado em 2019. Afigura-se improvável que a intensidade dos problemas globais visíveis nas medidas de saúde pública adotadas no País seja ignorada por consumidores, quando estes tomam a decisão de investir numa operação de longo prazo.
Os incorporadores parecem conscientes desse quadro, tanto que houve sensível redução dos lançamentos. Apenas 153 unidades residenciais novas foram oferecidas no mercado em janeiro, queda de 46,5% em relação a janeiro de 2019, segundo a mais recente pesquisa do sindicato da habitação (SecoviSP). Mas, como janeiro é mês sazonalmente fraco para os lançamentos, os dados em 12 meses não bastam para caracterizar uma mudança de tendência: a oferta foi de 55.396 unidades, mais 51,1% comparativamente aos 12 meses anteriores. Tanto na comercialização como nos lançamentos, os números de janeiro foram inferiores aos de dezembro de 2019, mas este é o padrão sazonal.
Mesmo que ocorra algum arrefecimento do ritmo da produção imobiliária, o setor deverá manter razoável dinamismo neste ano, movido pela demanda de unidades compactas no mercado paulistano. Mais importante, no caso, é a manutenção da oferta de crédito. Esta oferta tende a persistir forte no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que se vale dos recursos das cadernetas de poupança e de títulos imobiliários (como LCIs, CRIs e LIGs). Cabe observar o comportamento do FGTS, cujos recursos terão de financiar toda a gama de operações dos programas de habitação popular.
O Secovi pleiteia novas regras do zoneamento na capital, a serem revistas em 2021. É um ponto relevante para a atividade do setor, mas tem de ser acompanhado de perto porque significa a proposta de maior adensamento, com impacto urbano.

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